quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Samara



"Ainda escrevo, mesmo que com sede;
Ainda choro, mesmo que deserto. Recolho e enxergo, mesmo que incompleto;
Rezo, mesmo sem unir as mãos. Ainda espero, mesmo sem razão.
Áspero, inspiro castelos."

Riscou o papel com a tinta dos olhos de Samara, não sabia ler nem crescer, és a pena que segura às mãos. Tem pena de mim, exclama, mas cabe em sua pequena mão e escorre pelos anéis de ouro. 
Samara, corações em pedaços. São aqueles meninos que fazem sinais nas ruas, são jornaleiros e aquele poeta sentado na janela, são os maus pensamentos e os amadores de poesia. O café esfria entre os poucos pensamentos, respira o cheiro amadeirado das manhãs em sua casa, respira e desenha em sua água o futuro daqueles que ainda não sabem.
Guarda em ti o segredo dos capricornianos, são dos signos de seu tornozelo que cria poesia, constelação de pintas e mais pintas espalhadas pelo corpo, será de qual estrela?  Já ultrapassamos a estratosfera de seus olhos, não há mais volta a partir daqui, agora sabemos por que a dificuldade de chorar, e não deve, pois o sorriso é de um brilhante que nem as moças conseguem imitar, será sereia desse mar ou pura imaginação, já não sei. 

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Segunda-Feira




                Saio de casa sem calçar os sapatos;
                Devoro os livros e demoro o café, apelo para os salgados romances europeus, esqueço-me de ti e bocejo os versos de ontem.
                Apresso a vontade de ser só. Aprecio os dias de chuva e a calçada molhada.
                Parto do pressuposto de que as horas são marcadas pelo seu deslocamento. Não tenho carro. Sinto vontade, saudade e a idade.
Inquietude, dias e dias sem luz em nossa varanda.
Vende-se a casa ao lado, vem de ontem a vontade de sair daqui.
                Saio de casa e recolho as plantas no varal.

domingo, 30 de junho de 2013

La Complicidad.


            Oh, menina desfaz essa trança que agora quem respira sua voz sou eu, desfaz essa mesa que agora a vitrola toca. Desfaz a valsa e devolve o botão de minha camisa. Devolve também o ar de meus pensamentos, constrói em mim sua morada e faz nela o infinito coração.

            Não sabe a grandiosidade que é estar a frente de seus olhos, ninguém imagina a delicadeza de seus dedos, mal sabem os tolos aprendizes de poesia o que faz quando seu lábio seca, mal sabem eles o que colocar na próxima frase. Poetas, ainda se dizem donos dos livros da sua estante, não ouse tocar aquele livro, diz em voz alta, mas sorri, sorri feito uma deusa. Um sonho, aqueles que esquecemos quando acorda e deixa a saudade na porta de seu quarto.


            Deixa também o perfume nas golas da camisa, nas mangas e nos pés de laranjeira. Deixa pra lá e vem, senta aqui nesta cadeira e ouve o verso que fiz sobre você, ouve também o rádio que diz que vai chover, corre lá fora e recolhe a roupa, recolhe também meus calçados, há muito tempo não os vejo, desde que começamos essa procura por nós mesmos. Nós, aqueles dois sorrindo por entre a chuva que molha seu cabelo, molha também as folhas deste texto, que já se perde por entre as linhas umedecias.

domingo, 9 de junho de 2013

Ametista.


Há um silencio que reside, procuramos com os olhos os diálogos entre os objetos lançados a mesa.
Há uma causa solta, pendurada na porta. Há dias a falta de ideias enfurece o rapaz sentado na varanda.
Há uma sinopse em sua pele, algo como um roteiro de cinema, algumas manchas do sol e um gosto de saudade.
O homem estampado de céu atira seus sapatos contra os incômodos de sua casa. Arremessado contra o espaço cinza de sua rua, procura saídas.
O homem estampado de céu tem seus sonhos azuis.
A fragilidade está presente no passado pensado, arrependido e articulado.
Há fragilidade em seus dedos. Costura a minha alma na sua, acostuma meus passos aos seus.

Deslizo-me entre os textos mais confusos e traço o teu passado nas linhas de sua mão, coloco-me a disposição, a exposição, a distorção daquilo que já foi, aquilo que já esta a falta de seus dias. Aperto a mão de quem apenas sorri e apelo para um meio fechar de olhos um semicírculo de segurança, teorias tais que revelam a opacidade do olhar humano.
(...)

sábado, 4 de maio de 2013

Retórica.




 
            Aos poetas e aos leitores de poesia ainda resta uma duvida: viver ou vive-la.

            Há muito tempo venho escrevendo este que é mais um dilema entre os românticos, minha pequena peço que não se assuste com tais palavras, mas vou dedilhar cada corda que aqui está. Enfim chegou outono, digo isso porque o verão me causa fortes dores de cabeça e o calor daqui é tão diferente das nossas tardes na serra. A política corroeu os textos nobres dos poetas da cidade, ainda há românticos inconsequentes em bares e casas noturnas, mas aqueles que vingam são poucos. Caminho todos os dias na parte da manhã. Estou fazendo o que me recomendou: Limpo bem os sapatos antes de entrar em casa, converso com aquela planta que me deu, escrevo poesia, tomo café, leio jornal, preparo os livros e escorrego os olhos nas linhas mais sedutoras.

            Alguns dias atrás lembrei que deixei sua foto na gaveta do bidê, por favor, não deixe-a por motivo algum amarelar de saudade de seus olhos. Retire-a de lá e compre um bom porta retrato. Quando voltar, colocarei na parede da sala, assim quando nos visitarem poderão ver a nova cor da parede. Há um ou dois versos embalados nas óperas que assistimos, guarde-os com cuidado, toda palavra tem uma espécie de saudade de seu criador, trate-a bem, leia em voz alta para que ela sinta o que é viver. Afinal o que estamos fazendo?

            A partir daqui a fala começa a ficar um pouco mais pausada, as falas são só para preencher os espaços vagos dos abraços não dados. Digo isso pela distancia que há entre a carta que escrevo e o leitor que agora limpa os lábios em sua blusa. Concreto ou não todo poema é firme, de parede bem pintada, de engenharia perfeita. Acuso você por todos os meus escritos, acuso a ti o amor que estampa os versos dos amantes, acuso a ti, sim a ti, pequena e doce mulher com seus vestidos floridos.

quarta-feira, 24 de abril de 2013

Seu nome é quase cor


Minha pequena seu nome é quase cor.
Já desconheço o sentido da vida nestes dois minutos.
Ah. Se o coração fosse um pouco menos impulsivo.
Assim como os pássaros e os passos que voam.
Por que quando nos acostumamos o tempo voa;
Voa com as mãos fechadas levando aquilo que se sente.
Aquele garoto estava certo, é muito fácil se perder nos olhos de uma mulher.
Ainda há de haver invisível nas coisas dizíveis e o indizível se tornará daqui por diante infinito.
            Alguns sintomas rabiscaram as folhas de meu caderno, não sei se começo pelos fatos do coração ou pelas relíquias de minhas lembranças.
            Há algo estampado em sua camisa e apenas algumas gotas em seu copo. A máquina para ao ouvir o som do poeta que reduz sua carta a um abotoar de camisa, um suspiro e o rasgar de uma correspondência.
            Se algumas palavras tocarem seu peito minha pequena, deixe com que caia uma manga de seu vestido. Seria maldade dos Deuses deixar com que seu belo ombro fique preso para sempre em volto a esses tecidos. Se alguma silaba for tocar o grão de seus brincos, deixe-a contar o mínimo segredo que existe por trás de todos os versos deste pobre escritor. Deixe-a envolver-te em algum poema malicioso, alguma canção com piano, alguma história de faroeste com mocinhas que choram por páginas em seus diários.
            E assim quando um sorriso brotar naturalmente em seu rosto e por ventura seu rosto ficar corado, saberei quais as melhores flores para combinar com seu vestido.

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ana Flor






Será filha, Mãe e poeta;
Será. vestido azul, varal de estrela e abraço apertado;
Será Ana flor, pequena, ainda, mas Ana;
Mais fé, mas pequena, mais fogo.
Ana flor, voz doce.
Descobre que o futuro é só uma xícara;
Descobre na vida a voz que canta, descobre os pés no verão;
Ana flor, mais nada.
O significado dos dias e as horas;
E eu que era só mais um sonhador,
Que continha as gotas de seu choro,
Em pensar que a cor dos seus olhos é a mesma que estampa a minha camisa;
E o céu fica sempre azul;
E seu nome ecoará nos vales de meu pensamento;
E a flor será apenas um diminutivo de seu nome.
(...)

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Açúcar



 

            Quando esqueci meu nome pensei em seu rosto, pensei também nos dias que se foram e em como envelheci. Quando esqueci meu nome, arranquei do teto as estrelas para enfeitar seu cabelo. Quando esqueci seu nome, dormi três semanas e meia. Quando esqueci seu nome, fui mudo por alguns dias.

            Quando esqueci meu nome, era garoto que voa no campo, que sobe em árvore, pula muro. Era garoto bobo, de artista muito pouco, muito mais garoto. Bobo. E que a bobeira descansa no peito dos mais senhores, isso eu sabia de cor ou em preto e branco. Bobo. Ri de mim mesmo ao sentar no banco. Ri de tudo que fazia barulho ou palavra. Ri de mim ao esquecer o meu e o seu nome, era o primeiro encontro depois de tantos anos e eu nem sabia o que falar. Pus as estrelas no teto para fazer seu céu, sua constelação.

            Quando fui garoto novamente, me senti mais próximo, mais certo. Certo de que tudo não passa de uma brincadeira. Algum sentido há de ter, exclamei. Limpei os olhos e sorri.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Vértice.



 

 

            Minha pequena. Deixo em suas mãos a compreensão deste velho escritor.

            Quando procuramos demais, acabamos nos perdendo em nossas pegadas, o verso é tolo como o de qualquer garoto de meia idade. Mas procure entender, são mais tantos quilômetros que exausto faço para te encontrar. Digo exausto, pois os dias passam muito devagar e conviver comigo não é tarefa muito simples como vínhamos conversando em cartas passadas. Talvez se o tempo mudasse, mas a chuva insiste em fazer com que este vagão fique cada vez mais escuro.

            Penso que quando encontrar um diálogo a temperatura desde texto comece a fluir melhor. Por enquanto ficaremos assim, você com sua leitura pausada e eu com meus pensamentos soltos na mesa.

            Corte o pulso deste mandamento, escorra em tinta e em palavras mal colocadas. O mais valioso beijo é aquele que deixou de acontecer. O amor se tornou papel amassado em meio a essas contas. O amor deixou lembranças. Ah, mas se tu soubesses a raridade que é olhar em seus olhos, nem mesmo as pedras mais preciosas teriam este valor.

            Desculpe-me por este trabalho. Acabei demorando demais para escrever e me perdi lembrando como faziam os astrônomos, perdi todo o sentido das palavras quando tentava colocar seu nome em alguma estrela. Perdi a mania de chama-la para sentar a mesa, de puxar a cadeira e elogiar seu cabelo. Perdi o relógio e a passagem de volta, por favor, aguarde.

terça-feira, 19 de março de 2013

Terra



A terra saiu do eixo. Esta quadrada, fora de moda.

Alguns satélites já anunciam nos jornais “Procura-se Terra, nova ou semi-nova, favor entrar em contato seja primeiro, segundo ou terceiro grau.”.

A terra foi engolida pela vaidade dos deuses ou pela idade dos homens. Não serei o primeiro nem o ultimo a saber dos dias que perdemos.

A terra suspirou. Há mares que vem para o bem. Indico, Pacifico e sonolento calçou seus sapatos e saiu.

Saiu de órbita, saiu da ordem.

domingo, 10 de março de 2013

Singular.



 

            Fiz das cores de seu vestido arco-íris em nosso quarto. Fiz das paixões vividas cicatrizes em degraus para atropelar o silêncio das horas vazias. Fizeram a calha para segurar a água da chuva, das lagrimas no telhado. Fizeram a terra molhada para brotar a semente pura e lasca de manjericão.

            Castos são os beijos daqueles que a singularidade toca o sonho eterno de ser humemulher, mulherapaz, hoje cada um tem um pouco do outro e vice e verso, o espelho diz: sujeito indefinido no plural de seus dias. Nas apostas e nas corridas do dia a dia. Aos novos navegantes, o fluido de essência estará na ampulheta de seus corpos, equilibrem a alma e suas razões.

            E os lábios das meninas, agora vermelhos. Visto a cor de longe em suas peles brancas, seus movimentos de cigana, bailarina, mulher, feita de fé, força, sensibilidade, coragem, amor, dor, lagrimas e gestação. Feito laços que encantam seus vestidos mais bonitos. Feito céu, azul e só azul como sempre foi e como sempre será. A angustia de saber que por mais perto que esteja sempre estarei um passo atrás, um minuto atrasado e sem palavras a lhe falar.

            Acostume-se com o infinito que é viver, pois de finito já basta os dias que passam sem parar.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Cap. 18



            Uns dias de viagem e já me sinto um pouco sem lugar no mundo, há uma necessidade imensa de escrever algo tão delicado como sua voz. Quando em certas manhãs eu busco palavras nos varais que se moldam com o vento ou nas janelas do trem. Decidi encontrar uma forma de ameaçar seu rosto sério com um sorriso.

            Há flores que desbotaram com a falta de letras em minhas anotações, procuro alguma certeza escondida entre as roupas no porão. Os dias se vão e o gosto do café permanece em minha boca, algum retrato com a foto amarelada me sorri. Desculpe, sinto saudades dos dias de camisa branca, de tocar a grama e correr atrás de seus tornozelos, que tamanho terá o mundo agora? Qual o signo que brota das estrelas? Aonde parou meu relógio, tantas perguntas para tão pouco tempo e você mal me deixava falar.

            Os discos perderam-se no final de semana. Algumas músicas simplesmente abandonaram suas casas sob as faixas e ficaram por morar no sofá, no quarto, em minhas roupas e no virar de páginas. Há discos mudos, que em sua orbita vagam agulhas como estrelas cadentes. Agora por favor, recolham-se em meu peito se puderem. O tornarei seu lar de agora em diante para que fiquem por ali até a eternidade de meus setenta e tantos anos.

domingo, 3 de março de 2013

Declaro Amor.


            Deparo-me com o papel despido de ideias, de ideais. As coisas acontecem assim, ao orgulho daqueles que se privam das palavras que circulam seu coração. Há alguns papeis á serem preenchidos por nosso suor, a transpiração das palavras não ditas. Assim a dificuldade de expressar aquilo que se sente, aquilo que não é comum, se retira quase que por completo por uma caneta velha, que falha em alguns momentos, mas retira com raiz as coisas que estão presas na garganta daquele que não sabe falar.

            Aquele que se tornou mudo aos olhos dos outros, aquele que se deixou levar pelas ruas caladas da cidade, que fechou a boca para ouvir. Esqueceu-se de que suas palavras moravam por ali, em algum lugar que já não podia encontrar. Que já anunciavam em jornais: “Aluga-se um coração quieto, pouco tempo de vida e alguns retratos velhos.”. Ao discordar de seu rosto no espelho, notou que a alma recitava palavras doces, mas para alguém surdo dos olhos, mal pode ouvir seus versos.

            O gosto salgado de conter as palavras tocou o céu de sua boca, os dentes já desbotavam pelo sabor do café. E o dia amanhecia com um nome difícil de se pronunciar. Há dias que são paixão, outros que são a tranquilidade de um copo d’água. Ao balbuciar lagrimas em sua xícara, notou o céu com uma cor diferente. Era por fim a poesia escrita no varal, em seus lençóis, nos travesseiros, na toalha de mesa, nos contornos das mesas, nos tijolos da casa. Quando dormia seus sonhos falavam por ele.

            Seus sonhos emocionavam os que acordados juntavam as lagrimas para a colheita.

Cap. 17


            Pequena o mundo cresceu, passou o tempo em que podia andar por ai com seus vestidos coloridos. Estamos de fato, fadados a morrer de amor. Fadados ao infinito momento do abraço de reencontro. Acho bonito como escreve seu nome, sinto que se seguir o curso de seu pulso posso tocar o céu. Então dentro daquilo que você chama de grafia, posso me deitar e sentir o desejo de todos os nossos anos vividos.

            Ao inclinar da caneta, a visão se fecha e temos a lembrança daquilo que um dia foi nosso. Aquilo que um dia pulsou e tornou o que estava no papel em imagem para as lagrimas deslizarem de nossos olhos preocupados com o relógio. Nem mesmo os maiores heróis da Grécia conseguiriam passar ilesos por seus olhos minha pequena. Sua habilidade desafia as leis da física. Enquanto o homem tenta rastrear meteoros, eu sigo caçando a constelação de suas costas.

            A meu ver estou á dias sentado em uma cadeira. Espremido por palavras que demoram por sair. Assim fico aprisionado a qualquer resposta automática como: “sim, não, talvez, que horas são? Será que chove? Estou bem? Etc...”. Perdoe-me, acho que fui longe demais com meu discurso. Peço que com carinho risque esta última linha e comecemos do ponto inicial, onde éramos apenas dois. Sem essas palavras mal colocadas, sem a ilusão de nós.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Anil.


        

            O coração se torna pó. Torna-se pouco, pequeno dentre de nós.
            Acontece que quando a gota seca, você arrepia.

            Acontece que quando estamos juntos o tempo para, o relógio retarda a vontade de dormir. Siga no seu deleite e abra os olhos quando for necessário.
            Minha pequena. Siga com seu plano e aconteça.

            Aconteça, pois o mundo é pequeno demais para perder tempo com essas escovas de cabelo. As condições mudam assim como as previsões do tempo.
            Perpetue o que é belo e desfaça essa cama que logo chegará o inverno. A sua pele nunca ficou tão linda. A sua pele geme os prazeres da chuva. Os amores e luvas.

            Assim encapuzado com suas tranças e sua formalidade, desajeitei o chapéu e cai em seus versos, seus olhos que piscam em câmera lenta, sua boca que suavemente toca o copo. A se os poetas soubessem de seus vestidos. Se você soubesse a sede que dá quando a calmaria aguça os olhos.
(...)