Uns dias de
viagem e já me sinto um pouco sem lugar no mundo, há uma necessidade imensa de
escrever algo tão delicado como sua voz. Quando em certas manhãs eu busco
palavras nos varais que se moldam com o vento ou nas janelas do trem. Decidi
encontrar uma forma de ameaçar seu rosto sério com um sorriso.
Há flores
que desbotaram com a falta de letras em minhas anotações, procuro alguma
certeza escondida entre as roupas no porão. Os dias se vão e o gosto do café
permanece em minha boca, algum retrato com a foto amarelada me sorri. Desculpe,
sinto saudades dos dias de camisa branca, de tocar a grama e correr atrás de
seus tornozelos, que tamanho terá o mundo agora? Qual o signo que brota das
estrelas? Aonde parou meu relógio, tantas perguntas para tão pouco tempo e você
mal me deixava falar.
Os discos
perderam-se no final de semana. Algumas músicas simplesmente abandonaram suas
casas sob as faixas e ficaram por morar no sofá, no quarto, em minhas roupas e
no virar de páginas. Há discos mudos, que em sua orbita vagam agulhas como estrelas
cadentes. Agora por favor, recolham-se em meu peito se puderem. O tornarei seu
lar de agora em diante para que fiquem por ali até a eternidade de meus setenta
e tantos anos.
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