quarta-feira, 6 de março de 2013

Cap. 18



            Uns dias de viagem e já me sinto um pouco sem lugar no mundo, há uma necessidade imensa de escrever algo tão delicado como sua voz. Quando em certas manhãs eu busco palavras nos varais que se moldam com o vento ou nas janelas do trem. Decidi encontrar uma forma de ameaçar seu rosto sério com um sorriso.

            Há flores que desbotaram com a falta de letras em minhas anotações, procuro alguma certeza escondida entre as roupas no porão. Os dias se vão e o gosto do café permanece em minha boca, algum retrato com a foto amarelada me sorri. Desculpe, sinto saudades dos dias de camisa branca, de tocar a grama e correr atrás de seus tornozelos, que tamanho terá o mundo agora? Qual o signo que brota das estrelas? Aonde parou meu relógio, tantas perguntas para tão pouco tempo e você mal me deixava falar.

            Os discos perderam-se no final de semana. Algumas músicas simplesmente abandonaram suas casas sob as faixas e ficaram por morar no sofá, no quarto, em minhas roupas e no virar de páginas. Há discos mudos, que em sua orbita vagam agulhas como estrelas cadentes. Agora por favor, recolham-se em meu peito se puderem. O tornarei seu lar de agora em diante para que fiquem por ali até a eternidade de meus setenta e tantos anos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário