Já não se
fazem olhares como antigamente – fecha um dos olhos o poeta deitado em sua
grama particular. Acabo de desfazer os nós no cadarço e mirar nas nuvens o que
ainda não aconteceu. Foi assim que rabisquei a constelação de Órion, feito bule
de café, lembra até sua dança.
Foram-se os
dias laranja de nossos anos pintados a mão. Senti um leve tocar do vento em meu
calcanhar. Desliguei a TV e passei o chá para a mão direita, os dias passam
rápido demais para quem está preso em um relógio de ponteiros travados, mas
mesmo preso ainda sinto os batimentos dos dias que folheiam as caricaturas do
jornal.
Eu só
preciso de uma musica para lavar minha cabeça com as ideias vazias e as
políticas redundantes em cartazes e catarses espalhados pela cidade. Eu só
preciso da sua companhia para chegar aonde eu sempre quis estar, só preciso de
alguns minutos e nada mais. Ai, dentro daquilo que você chama destino, caberá o
infinito e próprio relógio que antes batia às 21 horas, estará pronto para
receber suas palavras.
O velho
senta, abre o jornal, sorri e joga comida aos pombos. O azulejo descolore a
filosofia do espelho torto. O mal olhado está estrábico, confuso e pede um
colírio nas sinaleiras da cidade. Os mendigos gastam dinheiro em seus carros de
papelão e a água escorre nas calçadas desconexas da cidade.