quarta-feira, 20 de março de 2013

Vértice.



 

 

            Minha pequena. Deixo em suas mãos a compreensão deste velho escritor.

            Quando procuramos demais, acabamos nos perdendo em nossas pegadas, o verso é tolo como o de qualquer garoto de meia idade. Mas procure entender, são mais tantos quilômetros que exausto faço para te encontrar. Digo exausto, pois os dias passam muito devagar e conviver comigo não é tarefa muito simples como vínhamos conversando em cartas passadas. Talvez se o tempo mudasse, mas a chuva insiste em fazer com que este vagão fique cada vez mais escuro.

            Penso que quando encontrar um diálogo a temperatura desde texto comece a fluir melhor. Por enquanto ficaremos assim, você com sua leitura pausada e eu com meus pensamentos soltos na mesa.

            Corte o pulso deste mandamento, escorra em tinta e em palavras mal colocadas. O mais valioso beijo é aquele que deixou de acontecer. O amor se tornou papel amassado em meio a essas contas. O amor deixou lembranças. Ah, mas se tu soubesses a raridade que é olhar em seus olhos, nem mesmo as pedras mais preciosas teriam este valor.

            Desculpe-me por este trabalho. Acabei demorando demais para escrever e me perdi lembrando como faziam os astrônomos, perdi todo o sentido das palavras quando tentava colocar seu nome em alguma estrela. Perdi a mania de chama-la para sentar a mesa, de puxar a cadeira e elogiar seu cabelo. Perdi o relógio e a passagem de volta, por favor, aguarde.

terça-feira, 19 de março de 2013

Terra



A terra saiu do eixo. Esta quadrada, fora de moda.

Alguns satélites já anunciam nos jornais “Procura-se Terra, nova ou semi-nova, favor entrar em contato seja primeiro, segundo ou terceiro grau.”.

A terra foi engolida pela vaidade dos deuses ou pela idade dos homens. Não serei o primeiro nem o ultimo a saber dos dias que perdemos.

A terra suspirou. Há mares que vem para o bem. Indico, Pacifico e sonolento calçou seus sapatos e saiu.

Saiu de órbita, saiu da ordem.

domingo, 10 de março de 2013

Singular.



 

            Fiz das cores de seu vestido arco-íris em nosso quarto. Fiz das paixões vividas cicatrizes em degraus para atropelar o silêncio das horas vazias. Fizeram a calha para segurar a água da chuva, das lagrimas no telhado. Fizeram a terra molhada para brotar a semente pura e lasca de manjericão.

            Castos são os beijos daqueles que a singularidade toca o sonho eterno de ser humemulher, mulherapaz, hoje cada um tem um pouco do outro e vice e verso, o espelho diz: sujeito indefinido no plural de seus dias. Nas apostas e nas corridas do dia a dia. Aos novos navegantes, o fluido de essência estará na ampulheta de seus corpos, equilibrem a alma e suas razões.

            E os lábios das meninas, agora vermelhos. Visto a cor de longe em suas peles brancas, seus movimentos de cigana, bailarina, mulher, feita de fé, força, sensibilidade, coragem, amor, dor, lagrimas e gestação. Feito laços que encantam seus vestidos mais bonitos. Feito céu, azul e só azul como sempre foi e como sempre será. A angustia de saber que por mais perto que esteja sempre estarei um passo atrás, um minuto atrasado e sem palavras a lhe falar.

            Acostume-se com o infinito que é viver, pois de finito já basta os dias que passam sem parar.

quarta-feira, 6 de março de 2013

Cap. 18



            Uns dias de viagem e já me sinto um pouco sem lugar no mundo, há uma necessidade imensa de escrever algo tão delicado como sua voz. Quando em certas manhãs eu busco palavras nos varais que se moldam com o vento ou nas janelas do trem. Decidi encontrar uma forma de ameaçar seu rosto sério com um sorriso.

            Há flores que desbotaram com a falta de letras em minhas anotações, procuro alguma certeza escondida entre as roupas no porão. Os dias se vão e o gosto do café permanece em minha boca, algum retrato com a foto amarelada me sorri. Desculpe, sinto saudades dos dias de camisa branca, de tocar a grama e correr atrás de seus tornozelos, que tamanho terá o mundo agora? Qual o signo que brota das estrelas? Aonde parou meu relógio, tantas perguntas para tão pouco tempo e você mal me deixava falar.

            Os discos perderam-se no final de semana. Algumas músicas simplesmente abandonaram suas casas sob as faixas e ficaram por morar no sofá, no quarto, em minhas roupas e no virar de páginas. Há discos mudos, que em sua orbita vagam agulhas como estrelas cadentes. Agora por favor, recolham-se em meu peito se puderem. O tornarei seu lar de agora em diante para que fiquem por ali até a eternidade de meus setenta e tantos anos.

domingo, 3 de março de 2013

Declaro Amor.


            Deparo-me com o papel despido de ideias, de ideais. As coisas acontecem assim, ao orgulho daqueles que se privam das palavras que circulam seu coração. Há alguns papeis á serem preenchidos por nosso suor, a transpiração das palavras não ditas. Assim a dificuldade de expressar aquilo que se sente, aquilo que não é comum, se retira quase que por completo por uma caneta velha, que falha em alguns momentos, mas retira com raiz as coisas que estão presas na garganta daquele que não sabe falar.

            Aquele que se tornou mudo aos olhos dos outros, aquele que se deixou levar pelas ruas caladas da cidade, que fechou a boca para ouvir. Esqueceu-se de que suas palavras moravam por ali, em algum lugar que já não podia encontrar. Que já anunciavam em jornais: “Aluga-se um coração quieto, pouco tempo de vida e alguns retratos velhos.”. Ao discordar de seu rosto no espelho, notou que a alma recitava palavras doces, mas para alguém surdo dos olhos, mal pode ouvir seus versos.

            O gosto salgado de conter as palavras tocou o céu de sua boca, os dentes já desbotavam pelo sabor do café. E o dia amanhecia com um nome difícil de se pronunciar. Há dias que são paixão, outros que são a tranquilidade de um copo d’água. Ao balbuciar lagrimas em sua xícara, notou o céu com uma cor diferente. Era por fim a poesia escrita no varal, em seus lençóis, nos travesseiros, na toalha de mesa, nos contornos das mesas, nos tijolos da casa. Quando dormia seus sonhos falavam por ele.

            Seus sonhos emocionavam os que acordados juntavam as lagrimas para a colheita.

Cap. 17


            Pequena o mundo cresceu, passou o tempo em que podia andar por ai com seus vestidos coloridos. Estamos de fato, fadados a morrer de amor. Fadados ao infinito momento do abraço de reencontro. Acho bonito como escreve seu nome, sinto que se seguir o curso de seu pulso posso tocar o céu. Então dentro daquilo que você chama de grafia, posso me deitar e sentir o desejo de todos os nossos anos vividos.

            Ao inclinar da caneta, a visão se fecha e temos a lembrança daquilo que um dia foi nosso. Aquilo que um dia pulsou e tornou o que estava no papel em imagem para as lagrimas deslizarem de nossos olhos preocupados com o relógio. Nem mesmo os maiores heróis da Grécia conseguiriam passar ilesos por seus olhos minha pequena. Sua habilidade desafia as leis da física. Enquanto o homem tenta rastrear meteoros, eu sigo caçando a constelação de suas costas.

            A meu ver estou á dias sentado em uma cadeira. Espremido por palavras que demoram por sair. Assim fico aprisionado a qualquer resposta automática como: “sim, não, talvez, que horas são? Será que chove? Estou bem? Etc...”. Perdoe-me, acho que fui longe demais com meu discurso. Peço que com carinho risque esta última linha e comecemos do ponto inicial, onde éramos apenas dois. Sem essas palavras mal colocadas, sem a ilusão de nós.