segunda-feira, 15 de abril de 2013

Açúcar



 

            Quando esqueci meu nome pensei em seu rosto, pensei também nos dias que se foram e em como envelheci. Quando esqueci meu nome, arranquei do teto as estrelas para enfeitar seu cabelo. Quando esqueci seu nome, dormi três semanas e meia. Quando esqueci seu nome, fui mudo por alguns dias.

            Quando esqueci meu nome, era garoto que voa no campo, que sobe em árvore, pula muro. Era garoto bobo, de artista muito pouco, muito mais garoto. Bobo. E que a bobeira descansa no peito dos mais senhores, isso eu sabia de cor ou em preto e branco. Bobo. Ri de mim mesmo ao sentar no banco. Ri de tudo que fazia barulho ou palavra. Ri de mim ao esquecer o meu e o seu nome, era o primeiro encontro depois de tantos anos e eu nem sabia o que falar. Pus as estrelas no teto para fazer seu céu, sua constelação.

            Quando fui garoto novamente, me senti mais próximo, mais certo. Certo de que tudo não passa de uma brincadeira. Algum sentido há de ter, exclamei. Limpei os olhos e sorri.

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