Oh, menina
desfaz essa trança que agora quem respira sua voz sou eu, desfaz essa mesa que
agora a vitrola toca. Desfaz a valsa e devolve o botão de minha camisa. Devolve
também o ar de meus pensamentos, constrói em mim sua morada e faz nela o
infinito coração.
Não sabe a
grandiosidade que é estar a frente de seus olhos, ninguém imagina a delicadeza
de seus dedos, mal sabem os tolos aprendizes de poesia o que faz quando seu lábio
seca, mal sabem eles o que colocar na próxima frase. Poetas, ainda se dizem
donos dos livros da sua estante, não ouse tocar aquele livro, diz em voz alta,
mas sorri, sorri feito uma deusa. Um sonho, aqueles que esquecemos quando
acorda e deixa a saudade na porta de seu quarto.
Deixa também
o perfume nas golas da camisa, nas mangas e nos pés de laranjeira. Deixa pra lá
e vem, senta aqui nesta cadeira e ouve o verso que fiz sobre você, ouve também o
rádio que diz que vai chover, corre lá fora e recolhe a roupa, recolhe também meus
calçados, há muito tempo não os vejo, desde que começamos essa procura por nós
mesmos. Nós, aqueles dois sorrindo por entre a chuva que molha seu cabelo,
molha também as folhas deste texto, que já se perde por entre as linhas umedecias.
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